Coisas estranhas acontecem na Península Ibérica. Todas parecem envolver um fato: de forma inexplicável toda a península se transforma em uma ilha. Sim, ela se separa do continente e segue seu rumo pelo oceano Atlântico. Ah! Saramago… sempre trazendo assuntos que parecem impossíveis de acontecer para discutir coisas tão reais. É assim em Ensaio sobre a cegueira também.
Antes de ler eu não sabia sobre o que se tratava porque tento não ler outras coisas antes das leituras e as vezes isso complica a minha vida com os livros. Este foi um caso. Para mim foi bem difícil de ler. Mas acho que não foi só porque Saramago brinca com a língua portuguesa de um jeito que só um grande conhecedor do idioma conseguiria. Também não é porque se trata de um texto um tanto quanto fantasioso que toca em alguns pontos da realidade que eu não conheço em sua completude. Acho que a condição em que lemos conta muito e eu li este livro no meio de uma pandemia que nos obrigou a um isolamento social de meses. Neste período minha concentração ficou um pouco prejudicada por conta da ansiedade, do cansaço, do medo… Não vou mentir: em alguns momentos eu me senti dentro do livro Ensaio sobre a cegueira.
Depois de ler Jangada de Pedra fui procurar mais sobre a obra. Coisas que me ajudassem a entender o texto por trás de toda a criatividade deste autor que eu gosto mas que acho difícil. E o que encontrei foi quase revelador. Sabe quando dá vontade de ler tudo novamente só para entender melhor? Pois é, foi o que aconteceu. Com esta separação hipotética da península quatro personagens se encontram e começam a viver uma longa aventura que mostra o leitor lendas e histórias daquela região da Europa. Aliás, um dos elementos que vem a tona é a identidade da ilha que se forma. Continuam sendo europeus? Algum dia eles realmente se sentiram acolhidos pelo continente? O interessante dessas questões é que, apesar de se tratar do continente europeu poderia se pensar nelas para muitas outras coisas.
P. S: Já escrevi sobre outras obras de José Saramago. Clique aqui para ver.
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