Ana Terra - Érico Veríssimo

“Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando”. Assim começa este livro que narra a história de Ana Terra, personagem que dá nome a esta obra de Érico Veríssimo. Na verdade Ana Terra é uma personagem do livro O Tempo e o Vento. Ela tem uma relação muito forte com a natureza, especialmente com o vento, e é tão importante em O Tempo e o Vento que o autor gaúcho permitiu que ela ganhasse um livro só seu.

Nunca tinha lido de Érico Veríssimo apenas de seu filho, Luis Fernando Veríssimo e lendo Ana Terra me perguntei várias vezes o motivo disso. Não é a primeira vez que me questiono sobre esta questão. Sei que a família tem um papel importante na formação de leitores mas a escola também o tem especialmente na apresentação dos clássicos e acho importante refletir sobre isso. Sempre que me pergunto sobre isso percebo que a leitura não nos faz refletir apenas sobre os temas centrais da obra mas também sobre coisas que vão para além dela e contribuem para que eu melhore minhas práticas.

Jorge Amado e Érico Veríssimo eram amigos e suas obras ajudaram e ajudam a construir o imaginário das regiões onde viviam e, mais do que isso, do Brasil. No entanto, enquanto o autor baiano, só de ouvir o nome, parece ser possível ‘decolar’ seus personagens de seu estado/região Érico e seus personagens parecem estar ‘colados’ na identidade do gaúcho. Ao menos era o que me parecia ao Ana Terra. Vi na personagem uma força impressionante presente em mulheres do Brasil todo, para não dizer do mundo todo. Seus problemas em maior ou menor grau ainda afetam mulheres de todo o país. Vi discussões sobre certos problemas sociais e preconceitos tão atuais e que estão presentes na obra que foi difícil não pensar que perenidade e universalidade são características de clássicos como este.

Ana é uma mulher forte que mora com a família em uma região que parece esquecida e onde a guerra é presença constante. O vento tem papel tão importante no texto que enquanto eu lia tinha a impressão que esta força da natureza saia das páginas mesmo que não estivesse ventando fora do livro. A solidão de Ana está muito presente no texto também. Depois de seu relacionamento com Pedro Missioneiro este sentimento parece ficar ainda mais forte. Aqui aparece uma ‘coincidência’, se é que se pode chamar assim. A solidão feminina é uma característica muito frequente tanto das obras de autores quanto de autoras. Se a personagem não for branca esta solidão é ainda maior. Talvez tenhamos que refletir sobre isso tendo em vista que não é uma característica situada em apenas uma época.

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