Sociedade literária e a torta de casca de batata

Certamente este foi um dos livros mais lindos que eu já li. Um livro só de cartas que nos apresenta Juliet, uma autora que, um ano depois da Segunda Guerra Mundial, procura inspiração para seu próximo livro. Tudo está muito confuso quando ela recebe uma carta de Dawsey Adams vinda de uma ilha no meio do Canal da Mancha. Ele é um leitor que escreve para a jovem escritora pois comprou um livro que pertencia a ela e, por ter gostado muito da obra, gostaria de saber se a antiga dona que morava em Londres tinha mais informações sobre aquele escritor. É assim que ela conhece a sociedade literária naquela longínqua ilha durante a Segunda Guerra. Uma sociedade que salvou a vida de muita gente por lá. As cartas que são trocadas a levam para a ilha. E é assim que a história nos é apresentada. Conhecemos um pouco da ocupação alemã no Canal da Mancha e das estratégias que tanta gente no mundo encontrou para sobreviver ao período vivido naqueles tempos.


A obra nos mostra a importância dos livros e das pessoas para resistir a tempos dolorosos (como foi a Segunda Guerra e como são tantos outros, como este que estamos vivendo agora em meio a uma pandemia, quarentena…). Este livro de Mary Ann Shaffer e Annie Barrows tem tanta coisa linda escrita que resolvi compartilhar alguns trechos com vocês.

“Tudo está tão destruído, Sophie: as ruas, os prédios, as pessoas. Particularmente as pessoas”.

“Não consigo pensar em solidão maior do que passar o restante da minha vida com alguém com quem não possa conversar ou, pior, com alguém com quem não possa ficar em silêncio”.

“Talvez haja algum instinto secreto nos livros que os leve a seus leitores perfeitos. Se isso fosse verdade, seria encantador”

“É isto que amo na leitura: uma pequena coisa o interessa num livro, e essa pequena coisa o leva a outro livro, e um pedacinho que você lê nele o leva a um terceiro. Isso vai em progressão geométrica - sem nenhuma finalidade em vista, e unicamente por prazer”

“Eu tinha a impressão de que tínhamos sido todos transformados em mulas, fugindo apressados, cada um no seu próprio túnel”

“Pensei, sinceramente, que todo mundo estaria tão cansado da guerra que não iria querer uma lembrança dela - muito menos um livro”

“O velho ditado - humor é a melhor maneira de tornar suportável o insuportável - talvez seja verdadeiro”

“Você já notou que existem pessoas - especialmente os americanos - que parecem intocados pela guerra, ou, pelo menos, não mutilados por ela?”

“Nós nos agarramos aos livros e aos nossos amigos; eles nos faziam lembrar que havia um outro lado em nós”

“Acho que você aprende mais quando está rindo ao mesmo tempo.”

“‘A vida continua.’ Que bobagem, eu pensava, porque é claro que ela não continua. É a morte que continua; Ian está morto agora, estará morto amanhã e no ano que vem e para sempre. Não existe fim para isso. Mas, talvez, haja um fim para o sofrimento que isso causa”

“Como dizia Sêneca: ‘Sofrimentos leves são loquazes, mas os grandes são mudos.”

“Alguns daqueles sujeitos eram maus, entravam na sua casa sem bater, maltratavam você. Eram do tipo que gostava de estar por cima, porque nunca tinham estado antes.”

“De todas as coisas que ocorreram durante a guerra, esta - mandar os filhos embora para mantê-los em segurança - foi com certeza a mais terrível”

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