Deserto de ossos

Acho que a primeira vez que ouvi falar da Armênia foi em uma novela da década de 1990 em que a atriz Aracy Balabanian interpretava a dona Armênia. Na época vi uma entrevista em que ela disse que aquele papel a deixava muito feliz pois era uma forma de homenagear seus pais que era Armênios. Nunca pensei muito sobre como armênios vieram parar no Brasil mas imaginava que era alguma coisa como as histórias que ouvimos falar muito quando se trata de migrantes: crise econômica, guerra, perseguição. Tudo muito genérico. Parece que todas as crises são iguais. Mas cada processo migratório tem suas causas e suas características.

Demorei para ler este livro porque fiquei com medo (alguém aí também fica assim?). O que acontecem nos livros costumam me tocar muito. E a prima que me emprestou este livro me disse que se tratava de fatos que não costumamos ouvir (a capa do livro também revela a dor contida neste livro). então, como já deu para perceber, este é um daqueles livros que mistura realidade e ficção e que nem sempre é fácil de chegar ao final tendo em vista que o cenário é de guerra. Ou melhor… de genocídio.

O tema central de O deserto de ossos, de Chris Bohjalian e publicado pela Companhia Editora Nacional, é o genocídio dos armênios que ocorreu, de maneira mais intensa, entre os anos de 1915 e 1916, no deserto da Síria. Sobre este período costumamos estudar na escola sobre a Primeira Guerra Mundial. É esta perseguição que traz para a América muitos armênios, entre eles os pais da atriz Aracy Balabanian. É no meio deste conflito que o romance entre Elizabeth, uma americana que vai para o oriente para uma missão humanitária na região, Armen, um jovem engenheiro armênio que teve toda sua família morta durante o massacre. Desse amor nasce uma família que vive em um silêncio profundo quando se trata da origem desse encontro. É a neta que começa a desvendar estes mistérios e perceber que aquele silêncio eram os traumas sendo sufocados para que a vida pudesse continuar.

Se, por um lado, os registros de fatos como este são importantes para que forme uma memória coletiva por outro relembrar tudo o que foi vivido, para quem viveu, pode ser como reviver aquela dor. Mas o silêncio que fica é sempre doloroso e angustiante porque aquela dor não sai, não ameniza sozinha.

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