Também os brancos sabem dançar: um romance musical

Também os brancos sabem dançar (publicado pela Todavia Livros) é uma obra escrita pelo escritor e músico angolano Kalaf Epalanga. Em linhas gerais, a obra conta a história de um músico angolano que é detido na fronteira entre a Suécia e a Noruega sem um passaporte válido. Seu destino era uma apresentação, junto com sua banda, em Oslo.

O músico vivia entre as cidadanias angolana e portuguesa desde que saiu de Angola com destino a Lisboa fugindo da guerra, ainda na adolescência. E nesse ponto, o livro permite que o leitor faça uma reflexão muito atual sobre como se formam nossas identidades. Esta, aliás, é uma questão que permeia todo o livro. Como as potências europeias, que formaram grandes impérios até bem pouco tempo, lidam com esta história que não deixou marcas apenas nos países colonizados, mas também nos territórios das metrópoles? Saber lidar com questões como estas é fundamental na contemporaneidade pois, não raro, migrantes oriundos de antigas colônias chegam nos países que outrora eram quem dominavam e acreditam que serão muito recebidos como parte daquele lugar tendo em vista que são parte da história. No entanto, não é esta a realidade que encontram.

No livro estes questionamentos formarão o contexto que tenta ajudar a responder a grande pergunta é: como explicar para os policiais da imigração que ele é apenas um músico?  Além das reflexões das quais falei, para responder a esta questão, o romance de Kalaf Epalanga conduz o leitor por uma viagem colorida e repleta de memórias pessoais em torno da África, Europa e até mesmo do Brasil. Enquanto vamos compreendendo os caminhos que o fizeram chegar até aquele lugar, respondendo perguntas para pessoas que parecem não acreditar no que está sendo dito, conhecemos lugares e pessoas que são as referências de cada um dos personagens (policiais, amigos…). Cada um deles contribuem ainda mais com as reflexões sobre uma sociedade multicultural como a nossa. Como este sujeito, que chega em terra desconhecidas, é visto e tratado? Será que a sociedade que recebe estas pessoas consegue perceber como influenciou e como é influenciada por estes migrantes?

Conhecemos também as músicas que marcaram a vida os personagens. E aqui chegamos a uma das características da obra: é um livro musical demais (no Spotify tem playlist). E apesar de toda a angústia que o livro traz, ele é muito alegre. O que só me faz ter uma certeza: a alegria é uma forma de resistência potente.

Entre todos os contratempos que cada um dos personagens vive, há questões que estão muito presentes na sociedade hoje em dia, especialmente com os processos migratórios que vemos acontecer com tanta intensidade.  É ler e encontrar muita reflexão a partir do que estudo e do que vejo nos jornais.

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