Tieta do Agreste

Quando estava terminando o doutorado, para dar uma arejada nos pensamentos, li alguns livros do Jorge Amado (Dona Flor e seus dois maridos e Capitães da Areia foram dois sobre os quais eu já escrevi). Na época eu estava tão agoniada e estas leituras me fizeram tanto bem que eu disse que quando eu terminasse o doutorado iria ler todos os livros do autor baiano (eu realmente estava gostando muito deles). Mas eu terminei o curso e não li mais nenhum livro dele.

Em 2018, porém, vi uma reprise da novela Tieta em que a personagem principal foi interpretada por Betty Farias. Eu vi esta novela (no fim da década de 1980) e eu adorava. Rever foi muito legal. Aí voltou a vontade de ler Jorge Amado e cheguei em Tieta do Agreste (Companhia das Letras), que foi publicado pela primeira vez em 1977.

Expulsa da cidade de Santana do Agreste pelo pai (Zé Esteves) por ser, digamos assim, muito namoradeira, Tieta refaz sua vida em São Paulo onde se torna cafetina. Todos os meses ela manda dinheiro para a família. No entanto, sem nenhum motivo aparente, as cartas são interrompidas e Perpétua logo imagina que a irmã está morta. Tieta volta rica e viúva depois de 25 anos fora de sua cidade natal. Ninguém em Santana do Agreste sabe direito quais são os tipos de negócios que ela tem mas a verdade é que para muitos deles isso pouco importa. Mas Tieta sabe em quem pode ou não confiar. Com seus contatos na cidade grande Tieta leva a luz elétrica a sua cidade, o que a deixa mais popular ainda. Este fato, no entanto, chama a atenção de uma indústria altamente poluidora. Todas estas questões sérias existem momentos divertidos que não prejudicam a seriedade da obra

Apesar do livro ser diferente da novela (e provavelmente do filme em que Tieta é interpretada por Sônia Braga) acho que existem algumas questões que estão presentes nas duas linguagens (a impressa e a televisiva e provavelmente na cinematográfica) que são 1) quem consideramos família e como estes laços se constroem? 2) Como o progresso pode acontecer sem que haja degradação da natureza? E a terceira questão, que algo que me chama muito a atenção em todas as obras que eu li deste autor baiano, que mulher é esta? A mulher de Jorge Amado é uma figura que, do seu jeito, no seu tempo, e dentro das suas possibilidades questiona toda a sociedade a sua volta. Ela é livre mesmo vivendo em lugares em que nem sempre ela pode ser e ela questiona essa impossibilidade. Tudo isso é tão encantador e tão contemporâneo que não tem como não ler.


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