Pensa que diário não serve para nada?

Já perceberam que eu estou na fase LIVROS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL? Digamos que foi praticamente inevitável isso. Um livro me lembrou outro e um texto levou a outro. Vamos então ao livro do momento.

Tenho o livro O Diário de Anne Frank (Editora Record) há muito tempo. Na verdade ele nem é meu, é da minha irmã, mas foi um presente meu. Escutei falar dele quando estava no fim do Ensino Médio, início da faculdade (faz tempo!). Nunca nenhum professor me falou dele, escutei em uma matéria de televisão (era sobre uma reedição da obra). Na primeira oportunidade comprei para minha irmã de aniversário. Sinceramente acho que livro é sempre um bom presente, mas fico triste ao perceber que poucas pessoas pensam desta forma. Mas voltemos ao livro...

Minha irmã leu (eu acho) e minha mãe também. Aliás, ela demorou a ler porque não conseguia ler antes de dormir, ela achava muito forte. A obra estava na minha estante, separadinha (como quase todos) para uma futura leitura (em primeiro lugar sempre vinham os obrigatórios para a aula e para o trabalho. Mas um belo dia, já na faculdade de História, um dos meus grandes mestres passou um trabalho em que deveríamos ler um livro (ele sugeriu um monte mas nos deixou a vontade para procurar outros) e apresentá-lo de maneira criativa. Uma das minhas colegas, iluminada, apresentou a proposta do Diário de Anne Frank. Na hora comprei a ideia e convencemos o pessoal. Ideia aceita, hora de ler. O livro me acompanhou em vários lugares, lia em qualquer espaço de tempo, esperando, viajando, antes de dormir (aliás como faço até hoje)Então, vamos a ele:

Uma menina de doze anos tem que se esconder junto com a família atrás de um fundo falso do armário de um escritório. Lá dentro ficam um total de oito pessoas. Anne ganhou o diário de aniversário, antes de ir para o esconderijo. Ah, para os que não sabem as pessoas que estavam escondidas no tal lugar eram judias e o diário foi escrito na década de 1940 no auge da Segunda Guerra. Naquele mundinho, quase um big brother sem câmeras, digamos assim, a vida deles segue com todos os conflitos e descobertas que podem ser imaginadas quando as pessoas não podem sair do lugar em que elas estão e vivem um clima tenso. O legal é que a guerra é o pano de fundo, mas o que vem a tona no diário são as descobertas de uma adolescente que, como qualquer outra, descobre o amor, a sexualidade, briga com a irmã e com os pais.

Como trata do cotidiano é interessante perceber algumas coisas. A primeira é a importância da escola (mais uma vez). Neste caso o pai de Anne é o principal responsável pelas ‘aulas’ que os menores frequentavam (digamos assim). Os livros estavam sempre presentes nesta casa. Todos ali trabalhavam com a perspectiva do fim do conflito e quando isso acontecesse os pequenos deveriam estar em condições de voltar aos estudos. Quando fizemos nossa apresentação nosso professor fez uma observação quanto a isto. Ele disse que os judeus de uma maneira geral dão muito valor ao conhecimento (pensem em Freud, Einstein...) e isso acontece porque este povo, durante toda a sua história foi muito perseguido e sabe que os bens materiais são facilmente tomados, mas o conhecimento não (aqui não quero dizer que eles não procuram os bens materiais, vamos combinar que todos os seres humanos procuram o conforto e a qualidade de vida que a matéria pode trazer.). A segunda coisa é mais hipotética, mas que em outras famílias deve ter acontecido: e se tivesse criança pequena? Bebê de colo mesmo que não sabe que tem que fazer silêncio, que não sabe que tem que controlar a fome, a dor e a tristeza? Na boa, só de pensar na angústia destes pais e no desespero em salvar-se e salvar o filho me dá uma inquietação quase insuportável. Nesses momentos agradeço por estar vivendo no Brasil de hoje.

Só para terminar... Certa vez li em uma revista que podemos conhecer a história dos conflitos por três lados: a dos vencedores(que quase sempre aparecem nos livros didáticos ou quaisquer outros, afinal eles são os primeiros a gritar que ganharam), a dos que estão vivos (eu citaria O que é isso companheiro ou 1968 – o ano que não terminou) e a dos que morreram (que é o caso deste livro). Achei isso interessante, nunca havia visto desta forma. Claro que estamos falando de escritos ou mensagens escritas, faladas ou fotografadas antes da morte dos indivíduos. Mas esta visão, a dos que morreram, é interessante e nem sempre lembrada. Pelo pequeno exemplo de Anne podemos imaginar, sem ficção, como era a vida de todos os perseguidos pelo regime nazista. Como já anunciei, a menina morre de tifo, pouco tempo antes de tropas inglesas tomarem o campo de concentração em que ela estava (Bergen-Belsen próximo de Hannover, na Alemanha). Seus escritos foram entregues ao pai por uma das funcionárias do escritório depois que tudo acabou. É ele quem toma a decisão de publicar, com ressalvas é claro. Mas vira e mexe tem uma edição nova com algum texto diferente.

Comentários

  1. Ai, esse livro é incrível mesmo. Li com 15 anos. Lembro direitinho como foi que surgiu o interesse pela história da Anne. Minha professora de História falou dele na aula, mas a diretora da escola proibiu que ele fosse adotado como paradidático porque era forte demais e ia nos deixar impressionados. Linda ela, né? Escondendo a realidade da gente. Tudo bem! Fui na biblioteca pública do meu bairro e peguei o livro emprestado. Li todo num dia só. Devorei na verdade. Chorei tanto tanto tanto e não fiquei nem um pouco traumatizada. Essa leitura me ajudou a amadurecer, a ficar mais crítica. Outro dia comprei um exemplar. Ainda não consegui reler, mas tá lindinho na minha estante. E quando fui a Holanda fiz questão de conhecer a casa onde eles ficaram escondidos. É uma sensação chocante. De lá voltei direto para o hotel. Precisava organizar os pensamentos. Tenho a lembrança de cada detalhe da casa. Inesquecível! Falei muito, né? Foi mal... Mas o assunto me emocionou. Obrigada pelo carinho de smepre. beijos

    ResponderExcluir
  2. Menina não acredito (apesar de já saber ) que esta cas ainda existe. É ótimo quando conseguimos fazer isso né: juntar o que lemos com o que vemos. Imagino como deve ter sido e fico muito feliz de conhecer alguém que possa me dizer isso! Eu também chorei neste livro e até hoje lembro dele como exemplo. Também acho que fiquei mais crítica depois do pequeno diário, quero ver se encontro novas edições como mais informações.

    Sobre diretores e professores: vira e mexe nos deparamos com uns assim, digamos, meio zelosos demais com nosso sonhos e impressões.

    Sobre o comentário longo: sem stress ele valeu e muito!Muito obrigada!

    Um abraço

    ResponderExcluir
  3. Pena que não tenho fotos. É proibido fotografar dentro da casa e no dia chovia tanto que não consegui tirar da fachada. Mas nem toda recordação tem que ser uma foto.
    Vc vai ficar louca com um livro que acabou de sair. É o "Anne Frank: A história do Diário que comoveu o mundo" (http://www.zahar.com.br/catalogo_detalhe.asp?id=1322). O livro é fantástico e revelador.
    Fica a dica ;)
    ADOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORO seu blog!!!
    Beijão

    ResponderExcluir
  4. Vou procurar este livro! Muito obrigada pela dica e pela presença. Eu também ADOOOOOOOOORO o seu blog! Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  5. Dessa vez, vou passar a bola.
    Tenho este livro aqui em casa. A minha mãe há muito tempo, e adorou.
    Mas, sabe que 2ª Guerra não é a minha praia, né.

    Bjnho

    ResponderExcluir
  6. compreendo Maitê... mas a única angustia do livro é que nós, leitores, sabemos em que situação ela está além, claro, de saber o final. Bjos e não deixe de aparecer.

    ResponderExcluir

Postar um comentário